Meu paciente tem arritmia: será fibrilação atrial?

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Palpitações ou “batedeiras no peito” são queixas frequentes no pronto-socorro e devem sempre levantar a suspeita de presença de arritmia.

Os sintomas geralmente são de início súbito e podem estar acompanhados de falta de ar, dor no peito, tontura, sudorese, pele fria e até desmaios. Quanto mais destes sintomas o paciente tiver, maior a chance dessa arritmia ser grave. Dessa forma, a realização do eletrocardiograma (ECG) deve ser a prioridade, principalmente para descartar arritmias potencialmente fatais e orientar a conduta terapêutica.

Umas das arritmias que mais fazem os pacientes procurar atendimento é a fibrilação atrial. A FA, como é mais conhecida, é uma arritmia frequente, principalmente em indivíduos da terceira idade, que acontece exclusivamente nos átrios e faz com que essas estruturas deixem de exercer uma de suas principais funções: a contração. Assim, o débito cardíaco, ou seja, a quantidade de sangue que é ejetada a cada batimento pode diminuir em até 30%. Isso, aliado ao aumento da frequência cardíaca, que pode chegar a 180bpm ou mais e que diminui o tempo de diástole ou de enchimento ventricular, contribui para a ocorrência dos sintomas acima citados.

A fibrilação atrial tem uma peculiaridade que costuma ser usada para defini-la. Dizemos que se “o ECG não tem onda P e apresenta RR irregular, trata-se de uma FA”. Vamos entender o que isso quer dizer?

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Figura 1: ECG evidenciando o ritmo de fibrilação atrial em um paciente de 67 anos, do sexo masculino.

Com os átrios fibrilando, há diversos estímulos simultâneos sendo gerados nos átrios, que podem variar de 450-600 por minuto. Efetivamente, isso não gera batimento, mas é capaz deflagrar pequenos potenciais de despolarização que podem, por vezes, ser visualizados na linha de base como pequenas e irregulares oscilações, chamadas de onda f. Por isso, não é possível identificar a onda P, pois de fato, ela não existe.

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Figura 2: Ondas f. Perceba a irregularidade da linda de base, não sendo perceptível distinguir uma onda P.

Em condições normais, toda vez que um estímulo atrial chega ao nó atrioventricular é conduzido aos ventrículos pelo sistema de condução. Acontece que, como na fibrilação atrial existe um número muito grande de estímulos, o nó atrioventricular não é capaz de conduzir todos devido a uma propriedade chamada período refratário. Esse período não é exatamente igual em todos os ciclos cardíacos e, desse modo, a permissividade do AV à passagem do estímulo também é irregular. Isso explica, portanto, porque os intervalos R-R (a medida entre um QRS e o seguinte) são irregulares.

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Figura 3: Irregularidade R-R. O intervalo entre os QRS varia batimento a batimento.

Vale a pena lembrar que quanto maior a frequência dos átrios e a resposta ventricular, essas características citadas podem tornam-se difíceis de serem distinguidas, isto é, as ondas f ficam quase imperceptíveis e os intervalos R-R quase semelhantes. Assim, o diagnóstico inicial pode acabar sendo genericamente de taquicardia supraventricular.

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