Meu paciente é um atleta: o que devo saber sobre seu ECG?

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Olá, pessoal. É sempre muito bom poder trazer novos temas da eletrocardiologia. E hoje resolvemos trazer um que tem tudo a ver com os grandes eventos que o nosso país está sediando, as olimpíadas e paralimpíadas. Hoje vamos falar do ECG no atleta.

Vocês sabiam que o coração de atleta condicionado pode apresentar alterações secundárias à prática de esportes e que isso se reflete em seu eletrocardiograma?

As alterações do coração de atleta estão relacionadas ao remodelamento estrutural e elétrico e, em muitos casos, podem mimetizar quadros de cardiomiopatia hipertrófica.

Quando avaliamos eletrocardiogramas de esportistas, é comum uma primeira impressão de que há alterações sugestivas de patologias. Mas, se você seguir as orientações dessa aula, você perceberá quais tratam apenas de variantes do normal e quais podem trazer riscos ao seu paciente.

A atividade física por si só não desenvolve doenças cardiológicas, mas atletas com cardiopatias pré-existentes – como miocardiopatias e doenças arritmogências primárias -, associadas à descarga adrenérgica induzida pelo exercício, estão mais suscetíveis a eventos arrítmicos fatais. Por esse motivo, o risco de morte súbita em atletas é aproximadamente três vezes maior ao dos indivíduos não atletas. Por isso, a identificação daqueles de maior risco constitui o principal objetivo dos programas de rastreio.

A fim de normatizar essa avaliação, foram estabelecidos os Critérios de Seattle, resultado de um consenso de diversos especialistas em medicina desportiva. São sugeridos critérios normais e aqueles compatíveis com a presença de patologia, conforme as tabelas abaixo:

Tabela 1. Critérios de Seattle – alterações consideradas normais em atletas¹
1. Bradicardia sinusal (>=30bpm)
2. Arritmia sinusal
3. Ritmo ectópico atrial
4. Ritmo juncional
5. BAV de 1º grau
6. BAV 2º grau tipo 1 (Wenckebach)
7. Atraso final de condução
8. Padrão de sobrecarga ventricular esquerda isolada
9. Repolarização precoce
10. Elevação convexa do segmento ST (domed) com inversão de ondas T de V1 a V4 em atletas negros.

 

Tabela 2. Critérios de Seattle – alterações consideradas patológicas em atletas²
Inversão de onda T >1 mm em 2 ou mais derivações V2-V6, II e aVF ou I e aVL (excluídas III, aVR e V1)
Depressão do segmento ST ≥0,5 mm em duas ou mais derivações
Ondas Q patológicas >3 mm ou duração >40ms em duas ou mais derivações (excepto III e aVR)
Bloqueio de ramo esquerdo ≥120ms, QRS predominantemente negativo em V1 (QR ou QS) e onda R monofásica em I e V6
Atraso na condução intraventricular Qualquer QRS ≥140ms
Desvio do eixo para a esquerda -30º até – 90
Sobrecarga atrial esquerda Onda P >120 ms em I ou II com porção negativa da onda P ≥1mm e duração ≥40ms em V1
Hipertrofia ventricular direita R-V1+S-V5>10,5 mm E desvio direito do eixo >120º
Extrassístole ventricular ≥2 extrassístoles num traçado de 10 segundos
Arritmias ventriculares Pares, triplets e taquicardia ventricular não mantida

Apesar de serem muitos e dificultarem a memorização, o importante é saber que eles existem e consultá-los quando diante de um ECG de atleta, visando sempre descartar alterações patológicas e tranquilizar o seu paciente.

Lembrem-se: um ECG é uma forma simples e rápida de rastreio em atletas que pode salvar vidas.

Não deixem de compartilhar essa aula com seus colegas. Temos certeza que muita discussão boa virá por aí.

Até a próxima, pessoal.

 

Referências:
  1. Adaptado de Drezner JA, Fischbach P, Froelicher V, et al. Normal electrocardiographic findings: recognizing physiological adaptations in athletes. Br J Sports Med 2013;47:125-36
  2. Adaptado de Drezner JA, Ashley E, Baggish AL, et al. Abnormal electrocardiographic findings in athletes: recognising changes suggestive of cardiomyopathy. Br J Sports Med 2013;47:137-52

Respostas de 2

    1. Prezada Gloria,
      Esperamos que junto com um médico cardiologista em consulta consigam os tratamentos e cuidados necessários para seu filho.
      Desejamos melhoras e agradecemos a sua participação.

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