Como analisar um eletrocardiograma? – Parte 2

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Olá, pessoal!

Quem acompanhou nosso portal no fim do ano passado, já pôde conferir a aula “Como analisar um eletrocardiograma? – Parte I”.  Ela é a base da discussão de hoje, já que vamos tratar da parte II deste tema. Quem ainda não checou essa publicação, clique aqui para ficar por dentro. E pra você que já esperava ansiosamente pela continuação, vamos juntos!

Fazendo uma breve revisão, na aula anterior nós discutimos como é importante a análise de todos os dados de identificação e de aspectos técnicos do exame. Vimos também que a análise sistemática de todo o conteúdo do exame é fundamental para que nenhum detalhe passe despercebido. E vale reforçar também que a aquisição do traçado é fundamental para uma análise adequada. Sugerimos que você relembre a discussão sobre esse tema clicando aqui para rever a audio-aula “Como fazer um eletrocardiograma”.

Agora vamos direto ao ponto!

Para uma análise sistemática do eletrocardiograma, sugerimos a avaliação em 5 passos principais:

1) Ritmo e frequência:

A determinação do ritmo é um dos passos mais importantes. Para tanto, é necessário considerar a presença ou não de onda P, sua morfologia e sua relação com cada complexo QRS. Devemos correlacionar os achados com a frequência cardíaca para a correta denominação do ritmo (grosso modo, frequências abaixo de 50 bpm são denominadas “bradi” e acima de 100 bpm, “taqui”).E não devemos deixar de notar a presença ou não de estimulação cardíaca artificial (marca-passo). Nessa etapa, também já devemos relatar as arritmias presentes no traçado, que podem ser classificadas como supraventriculares ou ventriculares (para saber mais, clique aqui).

Como analisar um eletrocardiograma II 01

Figura 1: Exemplo de ritmo sinusal, FC 67 bpm. Perceba a relação das ondas P com o QRS. Para saber mais como reconhecer o ritmo sinusal, clique aqui.

 

2) Ativação Atrial:

A análise da onda P pode revelar a origem do estímulo supraventricular (se sinusal ou ectópico), sinais de sobrecargas atriais e de distúrbios na condução do impulso pelo miocárdio atrial. Para saber mais sobre sobrecarga atrial esquerda, clique aqui.

A onda P normal do deve ter 2,5mm de amplitude e duração igual ou inferior a 110ms.

Devemos observar se há morfologias diferentes uma das outras e se há precocidade – isso auxilia na definição de ectopias.

 

3) Condução atrioventricular:

O período definido pelo início da onda P ao início do QRS determina o intervalo PR. Corresponde à ativação do atrial e ao retardo fisiológico na junção AV. Vale lembrar que o intervalo PR varia de acordo com a idade e a frequência cardíaca. Para saber mais sobre a tabela de correção, clique aqui.

A duração normal do intervalo PR no adulto é 120 ms a 200 ms. Intervalos com duração < 120 ms são descritos como “intervalo PR curto” estão relacionados à pré-excitação ventricular. Atrasos na condução AV acima de 200 ms ou com duração variada determinam tipos de bloqueios atrioventriculares. (Para saber mais sobre bloqueios atrioventriculares, clique aqui).

 

4) Ativação ventricular:

O complexo QRS define o que chamamos de ativação ventricular. É dito normal  quando a duração for inferior a 120ms e amplitude entre 5 e 20 mm nas derivações do plano frontal e entre 10 e 30 nas derivações precordiais. Aqui, várias são as informações que podem ser extraídas do traçado:

  • Eixo cardíaco: no plano frontal, os limites normais situam-se entre -30° e 90°. – para saber mais, clique aqui. Já no plano horizontal, tem como característica a transição da morfologia rS, característica de V1, para o padrão qR típico do V6, com o r aumentando progressivamente de tamanho, até o máximo em V5, e o S progressivamente se reduzindo até V6. Os padrões intermediários de RS (zona de transição) habitualmente ocorrem em V3 e V4.
  • Sobrecargas ventriculares: diversos critérios definem os padrões referentes a cada ventrículo. Para saber mais sobre sobrecarga ventricular esquerda, clique aqui.
  • Bloqueios intraventriculares: alterações na propagação intraventricular dos impulsos elétrico, determinando mudanças nas forma, com ou sem aumento na duração do QRS. Para saber mais sobre distúrbios da condução intraventricular, clique aqui.

Como analisar um eletrocardiograma II 02

Figura 2: ECG de 12 derivações evidenciando alargamento do QRS> 120ms e padrão de bloqueio de ramo esquerdo.

 

  • Áreas eletricamente inativas: presença de onda Q patológica em duas ou mais derivações contíguas que definem área de necrose miocárdica. Se quiser saber mais como definir corretamente a área acometida e a sua relação com as coronárias, clique aqui.

Como analisar um eletrocardiograma II 03

Figura 3: Fragmento de ECG de 12 derivações evidenciando as 6 derivações precordiais: perceba a presença de ondas Q de V2 a V6, configurando uma área de necrose anteroapical.

 

  • Presença de alterações morfológicas específicas como padrão de brugada, atrasos finais de condução, pré-excitação entre outros.

 

5) Repolarização ventricular:

Fizemos uma aula bastante detalhada sobre esse segmento do ECG. Sugerimos que você a leia para entender os detalhes de cada um de seus elementos clicando aqui.

A análise da repolarização ventricular contempla a presença ou não de alterações do ponto J/segmento ST que se correlacionam com isquemia ou injúria miocárdica; alterações da onda T que podem indicar isquemia miocárdica e alterações hidroeletrolíticas; aumento ou diminuição do intervalo QT secundário ao uso de medicações ou síndromes genéticas.

E para finalizar, aqui vai mais uma dica importante: acostume-se a manter um sequência de visualização das derivações, isto é, “passe o olho” no traçado sempre da mesma forma. Isso facilita muito a sistematização e a rapidez no processo de análise de um ECG.

Se você chegou até aqui, parabéns! Nós sabemos que esse tópico ficou extenso, mas a nossa intenção aqui era dar realmente uma ideia geral de como deve ser feita a interpretação de todo o ECG. E durante esta revisão vocês puderam perceber que já abordamos muitos temas da eletrocardiologia aqui no nosso portal, ao longo desse quase um ano de existência. Agora, você deve praticar a ordem de análise exposta e sempre documentar os achados seguindo essa mesma sequência básica.

Nesse post, você obteve importantes conceitos iniciais para saber avaliar e reconhecer um eletrocardiograma normal. Essa habilidade será a base para a interpretação diagnóstica de alterações patológicas e, consequentemente, para a determinação de condutas apropriadas para cada um dos seus pacientes.
Se você quiser dominar ainda mais o tema eletrocardiograma normal, clique aquipara conhecer as variações da normalidade que podem envolver as ondas P, QRS e T. E deixo também um desafio para você avaliar no seu dia a dia: qual a taxa de eletrocardiograma normal você encontra na sua rotina diária?

Até a próxima, pessoal!

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