Começando a entender o marca-passo

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Olá, pessoal.

Vocês sabiam que todos os dispositivos cardíacos eletrônicos implantáveis (marca-passos, ressincronizadores e desfibriladores) são classificados segundo uma normatização que permite a identificação eletrocardiográfica da estimulação cardíaca artificial? A razão disso é que nem sempre é possível identificar o tipo de dispositivo somente por meio do traçado eletrocardiográfico.

A normatização proposta pelas III Diretrizes da Sociedade Brasileira de Cardiologia sobre Análise e Emissão de Laudos Eletrocardiográficos segue uma padronização internacional idealizada  pela North American Society of Pacing and Electrophysiology (NASPE) e pelo British Pacing and Electrophysiology Group (BPEG). Vamos conhecer?

A identificação do dispositivo é composta por cinco letras:

  • Primeira letra: câmara estimulada

O: nenhuma;

A: átrio;

V: ventrículo;

D: átrio e ventrículo;

  • Segunda letra: câmara sentida

O: nenhuma;

A: átrio;

V: ventrículo;

D: átrio e ventrículo;

  • Terceira letra: resposta à sensibilidade

O: nenhuma;

I: inibir;

T: trigger (disparar ou deflagrar);

D:inibir e deflagrar;

  • Quarta letra: modulação de frequência

O: nenhum;

R: sensor de variação de frequência ativado.

  • Quinta letra: estimulação multissítio

O: nenhuma;

A: atrial;

V: ventricular;

D: atrial e ventricular.

 

Calma! Tudo pode parecer confuso agora. Mas aos poucos essa letras vão fazendo sentido.

Agora, como podemos perceber a atuação do marca-passo no traçado? Quando a função é trigger, ou seja, disparar ou deflagrar, usualmente é possível identificar um sinal no traçado chamado de espícula, que indica exatamente o momento em que houve a ativação, seja da câmara atrial, seja da ventricular, ou até das duas. Vamos ver um exemplo de como isso ocorre:

MP-DDD

Figura 1: ECG de 12 derivações evidenciando um ritmo de marca-passo dupla câmara, com espículas ativando átrio e ventrículos, usualmente descrito como MP DDD.

imagem

Figura 2: Detalhe da derivação V3. A letra “a” indicação a posição da espícula atrial. A letra “v”, a da espícula ventricular.

MP-AAI

Figura 3: ECG de 12 derivações, agora mostrando um MP em modo AAI: sente átrio, estimula o átrio e se inibe frente a uma ativação fisiológica desta mesma câmara. Perceba a presença de espículas somente atriais e em todos os batimentos – isto é, não houve batimento atrial próprio do paciente neste traçado. A ativação ventricular é fisiológica e ocorre pelo próprio sistema de condução do paciente.

As espículas podem ainda se apresentar de forma diferente, a depender do tipo de aparelho de eletrocardiograma utilizado para a captura do traçado. Um exemplo, é a marcação com um “X” onde há a presença de estimulação cardíaca artificial.

Os dispositivos cardíacos implantáveis têm hoje uma série de funções que foram sendo implementadas ao longo de suas evoluções. Não cabe aqui destrinchar cada uma delas nesta aula, mas fiquem tranquilos que muitas aulas sobre esse tema ainda virão. A ideia hoje, foi fazer você começar a se familiarizar com o tema.

Também, vamos explorar bastantes traçados sobre os diferentes tipos de dispositivos cardíacos implantáveis. Continuem nos acompanhando.

Até a próxima, pessoal.

 

Referências:
Arq Bras Cardiol. 2016; 106(4Supl.1):1-23

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