Olá, pessoal. Vocês já devem ter percebido que as alterações da repolarização ventricular são relativamente frequentes em laudos de eletrocardiologia. No entanto, em sua grande maioria, acabam sendo citadas sem especificação ou designadas como “discretas” ou “inespecíficas”, quando não se associarem a patologias ou alterações estruturais cardíacas definidas ou evidentes.
O cuidado que temos que ter é que a análise deste item no eletrocardiograma pode trazer o diagnóstico de diversas entidades e condições clínicas importantes como isquemia e infarto agudo do miocárdio, sobrecarga ventricular, efeitos ou intoxicações medicamentosos (ex: digitálicos), distúrbios hidroeletrolíticos e canalopatias, que podem até levar à morte súbita. A interpretação de cada uma dessas alterações é extremamente importante para o auxílio no diagnóstico clínico. Mas para entendê-las, é necessário saber reconhecer, primeiramente, os elementos que compõem a repolarização ventricular do eletrocardiograma normal. É sobre isso que vamos falar hoje!
Para começar, vamos ver o que diz a III Diretriz da Sociedade Brasileira de Cardiologia sobre Análise e Emissão de Laudos Eletrocardiográficos de 2016 sobre o tema:
A análise da repolarização ventricular por meio do ECG é extremamente complexa, pois esta representa a interação de vários sistemas capazes de se expressarem nos segmentos e ondas elétricas. O fenômeno da repolarização ganhou maior notoriedade ao trazer contribuições para a estratificação de risco de eventos arrítmicos graves e morte súbita. Nas últimas décadas, os grandes avanços foram as definições da dispersão da repolarização ventricular, marcador da recuperação não uniforme da excitabilidade miocárdica e o reconhecimento da macro ou da microalternância cíclica da onda T. Devem-se considerar, como alterações da repolarização ventricular, as modificações significativas na polaridade, na duração, na morfologia dos fenômenos elétricos relacionados a seguir.
Vamos agora observar em um eletrocardiograma os tais fenômenos elétricos que representam a repolarização ventricular:
Figura 1: Registro eletrocardiográfico evidenciando os elementos principais, com destaque para a repolarização ventricular (retângulo marrom).
O período compreendido entre o final do complexo QRS e final da onda T ou U (quando houver) delimita a repolarização ventricular.
PONTO J
Trata-se da junção do final do QRS e o início do segmento ST. É fundamental para a análise de isquemia e/ou injúria miocárdica.
SEGMENTO ST
Porção do traçado que se encontra entre o complexo QRS e a onda T. Situa-se no mesmo nível da “linha de base” do ECG, determinada pelo segmento PR.
ONDA T
Normalmente de início lento e final rápido, apresenta inscrição assimétrica no traçado e é positiva em quase todas as derivações, com a mesma polaridade do complexo QRS. Sua amplitude é de 10% a 30% do QRS.
ONDA U
É a última inscrição que pode ou não estar presente no traçado. Vem após a onda T e antes da onda P do próximo ciclo, com a mesma polaridade da T e com cerca de 5 a 25% de sua amplitude.
INTERVALO QT
Compreende o período entre o início do complexo QRS e o final da onda T. Representa a duração total da atividade elétrica ventricular. O valor deve ser corrigido de acordo com a frequência cardíaca.
Bom, acho que cumprimos nossa missão de apresentar a repolarização ventricular para que vocês possam se familiarizar com os seus elementos. Em breve, traremos cada um dos grandes temas relacionados a ela, citados lá no começo do texto. Por ora, se quiser conferir sobre o infarto agudo do miocárdio e sua correlação eletrocardiográfica, clique aqui.
Até mais, pessoal.