Derivações frontais – a origem do sistema hexa-axial

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Você sabia que a atividade elétrica do coração foi registrada pela primeira vez no início do século XX? O eletrocardiógrafo é um galvanômetro que registra a diferença de potencial entre dois pontos da superfície corpórea e foi inventado pelo fisiologista Einthoven, motivo pelo qual ganhou o prêmio Nobel de Fisiologia e Medicina em 1924. A linha que une esses dois pontos é chamada de derivação e é sobre ela que vamos falar hoje.

Antes de começar a falar especificamente sobre cada uma das derivações e suas características, é bom relembrar que o aparelho de ECG é composto por dez cabos para o registro do traçado: seis deles são os eletrodos precordiais, de V1 a V6, três deles são os eletrodos de membros (braço direito [R, do inglês right], braço esquerdo [L, do inglês left] e perna esquerda [F, do inglês foot]) e um deles é chamado de fio terra, que se localiza na perna direita.

Os eletrodos colocados nos membros (R, L e F) formam um plano denominado plano frontal. Ao traçarmos uma linha imaginária entre cada um desses pontos, dá-se origem às derivações bipolares, denominadas DI, DII e DIII. Cada derivação mede a diferença de potencial elétrico entre dois eletrodos: o explorador (+) e o indiferente (-). Veja a figura abaixo:

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Figura 1: Cada uma das derivações frontais bipolares, representadas pelas linhas que unem dois eletrodos. A junção das três constitui um triângulo equilátero – o triângulo de Einthoven. No caso da derivação DI, o eletrodo indiferente é o braço direito e o explorador, o braço esquerdo.

Para que a orientação espacial dos vetores pudesse ser mais bem determinada, outras derivações foram necessárias. Como não havia mais polos disponíveis, o americano Frank Norman Wilson desenvolveu, a partir dos eletrodos dos membros, uma central terminal que originou o eletrodo indiferente para todas as demais derivações unipolares do eletrocardiógrafo – só para os curiosos, era formado pela ligação entre cada membro (R, L e F) a um resistor de 5000 Ohms e os resistores unidos a um ponto central. Essa central também é chamada na prática como potencial zero ou referência.

A partir desse ponto central e se dirigindo para cada eletrodo explorador, surge uma nova derivação vetorial, denominada V (do inglês, vector): VR, VL e VF.

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Figura 2: Cada vetor parte da central terminal (polo negativo) para o eletrodo explorador (membros). O polo negativo é formado pela combinação dos três eletrodos dos membros.

Os registros obtidos nessas derivações apresentavam voltagem reduzida, quando comparadas aos das derivações bipolares. Para resolver esse problema, em 1942, Emanuel Goldberger introduziu modificações no eletrodo indiferente (central terminal), aumentando a amplitude do sinal em 50%. Daí a adição da letra “a” (do inglês augmented) no nome destas derivações: aVR, aVL e aVF.

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Figura 3: Cada vetor origina-se na central terminal, agora formada a partir de modificações que tinham como objetivo aumentar a amplitude (voltagem) das derivações VR, VL e VF. O polo negativo (central terminal) passa a ser formado por uma combinação de eletrodos tomados dois a dois. No caso de aVR, por exemplo, a central terminal é formada pela combinação do eletrodo do braço esquerdo com o eletrodo da perna esquerda.

Superpondo-se todas essas derivações frontais, bipolares e unipolares, deu-se origem ao sistema hexa-axial, caracterizado pela divisão do coração em quadrantes e utilizado para se determinar a orientação dos vetores no plano frontal. Para saber mais como utilizá-lo para se determinar o eixo cardíaco, clique aqui.

Bom pessoal, por hoje é só. Muitos conceitos físicos fundamentais para o entendimento desse engenhoso galvanômetro chamado eletrocardiógrafo foram revelados. A noção básica de seu funcionamento sempre traz subsídio para melhor interpretação do eletrocardiograma. Em breve falaremos como são formadas as derivações precordiais ou horizontais. Não perca. Até lá!

 

Referências:
Eletrocardiograma em 7 aulas, 2ª edição. Editora Manole. 2016.
publicacoes.cardiol.br
en.wikipedia.org/wiki/Willem_Einthoven

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