Olá a todos! Quem já atendeu um paciente com hipercalemia sabe que se trata de uma emergência médica. E cada minuto é importante no manejo desta condição. O interessante é que o diagnóstico pode ser inferido rapidamente pelo eletrocardiograma, e também através dele é possível determinar sua gravidade. O tratamento deve ser efetivo: proteger a membrana do cardiomiócito, prevenindo arritmias malignas (fibrilação ventricular e assistolia), e diminuir a concentração sérica de potássio, seja por deslocamento para o meio intracelular, seja por eliminação via renal.
A hipercalemia é definida quando os níveis séricos de potássio estão acima de 5,5mEq/L. O incremento contínuo da concentração desse íon na corrente sanguínea leva a alterações eletrocardiográficas progressivas, envolvendo até os sistemas de condução do impulso elétrico. A alteração mais comum é o apiculamento da onda T, isto é, aumento da amplitude e estreitamento da base, com formato em tenda. Confira na tabela abaixo as principais alterações eletrocardiográficas na hipercalemia:
Níveis de potássio sérico | Alterações eletrocardiográficas |
5,5 a 6,5 mEq/L | Onda T apiculada, base estreita, formato “em tenda”. Intervalo QT pode ser curto. |
6,5 mEq/L a 8,0mEq/L | Achatamento da onda P ou o seu desaparecimento; Prolongamento do intervalo PR; Aumento da duração do QRS com alterações morfológicas.
Outros alterações: ritmos de escape juncional, bloqueios atrioventriculares. |
> 8,0 mEq/L | Desaparecimento da onda P. Alargamento do QRS e fusão com onda T – formato sinusoidal. |
É importante lembrar que essa correlação eletrocardiográfica com os níveis séricos de potássio serve apenas de referência e nem sempre ocorre da maneira descrita. Desse modo, é possível observar casos em que alterações eletrocardiográficas graves estão presentes com níveis não tão elevados de potássio. Do mesmo modo, e principalmente em casos de pacientes renais crônicos, níveis mais elevados de potássio podem estar elevados com pouco ou nenhuma repercussão clínica e eletrocardiográfica.
Figura 1: ECG solicitado na sala de emergência. Hipercalemia moderada: ritmo de escape juncional (perda da onda P) e apiculamento da onda T, com formato em tenda.
Figura 2: ECG de 12 derivações (25mm/seg e 10mm/mV) evidenciando taquicardia de complexo largo (QRS 240ms) e padrão sinusoidal. Hipercalemia grave com potássio sérico de 9,9mmol/L.
É válido lembrar que um importante diagnóstico diferencial do apiculamento da onda T é a fase inicial de síndrome coronariana aguda com supra de ST. O detalhe que deve ser observado é a base da onda, que aqui tende a estar mais alargada (abordaremos esse tema em outra aula). E, é claro, a correlação clínica também é fundamental.
Muito bem, turma. Esperamos ter atingido a missão de transmitir esse tema de forma didática e clara. Estamos em constante atualização e, em breve, traremos novidades. Convide seus amigos e colegas para acompanhar nosso site. Até a próxima.
Referências: Circulation. 2007;116:e2-e4. Originally published July 2, 2007