Como avaliar um ECG na dor torácica?

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Olá, pessoal.

Todo mundo que trabalha em prontos-socorros sabe da importância do atendimento adequado a pacientes com dor torácica. Por ser uma queixa constante, a sistemática na avaliação deve priorizar a correta triagem clínica e a realização o mais precoce possível do eletrocardiograma em todo paciente. Não é por menos que as diretrizes trazem recomendações categóricas sobre o manejo desses pacientes, pois essas medidas podem salvar vidas.

O primeiro passo e o mais importante na avaliação inicial é a realização do eletrocardiograma de 12 derivações. Idealmente, deve ser feito em até 10 minutos após a chegada do paciente no hospital (Classe I, nível de evidência B). Essa medida, além de auxiliar na estratificação imediata da gravidade clínica, ajuda a diminuir o tempo de intervenção aguda nos casos de síndrome coronariana com supra do segmento ST (SCASST) e, consequentemente, aumenta a chance de preservação do miocárdio e diminui o risco de complicações e mortes. O diagnóstico eletrocardiográfico correto em tempo hábil é fundamental.

Quando for possível, a comparação com eletrocardiogramas prévios deve ser feita. Procure por prontuário ou pergunte ao paciente se ele possui um. Quaisquer alterações novas do segmento ST ou onda T podem estar relacionadas a maior chance de doença coronariana. Por outro lado, alterações prévias que se apresentam da mesma forma no ECG mais recente podem ajudar a descartar os sintomas atuais como causas dessas alterações.

Os aspectos mais importantes que devem ser avaliados dizem respeito ao segmento ST e onda T. Essas alterações permitem classificar o paciente em relação ao risco de eventos cardíacos em pacientes com SCA. Vamos detalhar cada uma delas:

 

  • Presença do infradesnivelamento de ST >0,5mm está associada a alto risco de eventos cardíacos.
  • Indivíduos com inversão simétrica de onda T>2mm ou ondas Q patológicas apresentam risco intermediário de eventos.
  • Alterações dinâmicas do segmento ST (depressão ou elevação do ST >= 1mm, e/ou inversões da onda T que se resolvem pelo menos parcialmente quando do alívio dos sintomas) também são marcadores adversos.

 

Alterações dinâmicas são aquelas que se apresentam de maneira intermitente em ECGs seriados. Ou seja, a presença de onda T invertida no primeiro ECG realizado após a admissão hospitalar e a normalização dessa onda em um ECG realizado após um período de observação configura-se como alteração dinâmica. Perceba, essa variação ocorre quando se compara traçados diferentes e não batimentos diferentes no mesmo exame.

É por isso que o ECG deve ser repetido pelo menos uma vez em até 6 horas nos casos em que o primeiro não foi diagnóstico (Classe I, nível de evidência C).

Vale lembrar que a monitorização contínua do ECG, sempre que possível, é recomendada durante o período de observação do paciente com suspeita de coronariopatia  no setor de emergência.

Por fim e não menos importante, são também marcadores de prognóstico adverso a presença de taquicardia (FC> 100bpm) ou bradicardia (FC<50bpm) ou bloqueio de ramo novo ou presumidamente novo. Além disso, atividade ectópica ventricular é mais comum durante episódios mais longos de isquemia e está frequentemente associada a alterações do segmento ST e onda T. Redobre sua atenção nesses casos pois pode haver um risco aumentado de desenvolvimento de arritmias malignas (taquicardia ou fibrilação ventricular).

Não podemos esquecer que o eletrocardiograma normal não exclui a possibilidade de ocorrência de SCA e, portanto, não substitui a avaliação clínica em conjunto com exames laboratoriais complementares.

Para saber mais sobre a avaliação topográfica do infarto através do ECG, clique aqui.

Bom, é isso pessoal. Nunca é demais falar sobre dor torácica e o aperfeiçoamento contínuo no atendimento a pacientes que a apresentam é sempre um grande investimento. Fiquem atentos aos detalhes apresentados aqui toda vez que for avaliar o ECG em um contexto de dor torácica.

Até a próxima.

 

Referências: Diretrizes da Sociedade Brasileira de Cardiologia sobre Angina Instável e Infarto Agudo do Miocárdio sem Supradesnível do Segmento ST (II Edição, 2007) – Atualização 2013

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