Hoje, o recurso mais rápido de reconhecimento do infarto agudo do miocárdio (IAM) é o eletrocardiograma (ECG). Por meio dele, conseguimos obter informações fundamentais como o diagnóstico topográfico, evolutivo e diferencial, além de dados sobre possível infarto antigo. É uma excelente ferramenta para auxiliar o médico na conduta terapêutica, impactando no prognóstico do paciente.
Um dado importante que é valido lembrar: em cerca de 20% dos infartos, o ECG é normal.
Para que as alterações eletrocardiográficas durante o IAM ocorram, é necessário considerarmos 3 fatores:
- Duração da isquemia: hiperaguda , aguda ou crônica.
- Extensão: tamanho da área afetada.
- Localização: região acometida no coração (diagnóstico topográfico).
Antes de dar continuidade, vamos rever alguns conceitos terminológicos importantes para que fique bem frisado.
A evolução da insuficiência coronariana pode ser diferenciada em três, pela regra dos ‘’Is’’:
– Isquemia : significa que uma parte do miocárdio está com sofrimento isquêmico, mas sem evidência de lesão estrutural. REPRESENTADA POR ALTERAÇÕES DA ONDA T, PRINCIPALMENTE INVERSÃO.
– Injúria: significa área do miocárdio em risco. Existe lesão pela isquemia, porém pode ser reversível se houver reperfusão rápida. REPRESENTADA PELO SUPRADESNIVELAMENTO DO SEGMENTO ST.
– Infarto: Significa dano irreversível, com área de necrose do músculo cardíaco, devido tempo prolongado de isquemia. REPRESENTADO PELA ONDA Q NO ECG.
Também é valido enfatizar que, na fase hiperaguda da síndrome coronariana com supra do segmento ST, ou seja, três minutos após oclusão da coronária, a primeira alteração eletrocardiográfica é alteração da onda T, que se torna simétrica, proeminente e com a base alargada.
Relembradas então tais terminologias, vamos para o fundamento da aula.
DIAGNÓSTICO TOPOGRÁFICO nada mais é que a alteração eletrocardiográfica correlacionada com sua localização. Assim, definida a área acometida, é possível inferir qual a artéria coronária responsável pelo evento de supressão de aporte sanguíneo.
Segue abaixo a tabela que hoje é o conceito mais utilizado e clássico de diagnóstico topográfico de IAM, com sua possível correlação com as artérias coronárias.
TOPOGRAFIA | ALTERAÇÃO NO ECG | CORONÁRIA ACOMETIDA |
Anterosseptal | V1 e V2 ou V1-V3 | DA (ramo diagonal) |
Anterior | V1-V4 | DA (terço médio) |
Anterior extenso | V1-V6, com ou sem D1 e AVL | DA (proximal) |
Apical ou lateral | V5-V6 | DG ou ME |
Lateral alto | D1-AVL | DG e ME |
Inferior ou diafragmático | D2,D3,AVF | CD ou CX |
Dorsal ou posterior | V7,V8,V9 ou imagem espelho em V1 e V2 ou V3 | CX |
Anterolateral | V4 a V6 com ou sem D1 e AVL | DG, RAMO INTERMÉDIO ou ME |
Inferolateral | D2,D3,AVF e V5 e V6 | CD ou CX (proximais) |
Inferolaterodorsal | D2,D3 e AVF, V5 e V6 e V7 e V8 (ou imagem em espelho em V1 e V2) | CX proximal |
Ventrículo direito | V3R e V4R | CD ou CX |
European Heart Journal (2005) 26, 2637–2643 doi:10.1093/eurheartj/ehi496
Nesse novo padrão, o ventrículo esquerdo é dividido em duas zonas:
– anterosseptal: quatro regiões (A1-A4);
– inferolateral: três regiões (B1-B3);
ZONA ANTEROSEPTAL | ||
Septal (A1) | V1 e V2 | Ramo septal da DA |
Anterior Apical (A2) | V5 e V6 com ou sem D1 e aVL | DA (distal) |
Anterior Extenso (A3) | V1 a V6 | DA (proximal) |
Anterior Médio (A4) | D1 e/ou aVL. Eventualmente V2 e V3 | Dg |
ZONA INFEROLATERAL | ||
Lateral (B1) | V5 e V6 com ou sem D1 e aVL ou imagem em espelho V1 e V2 | ME |
Inferior (B2) | D2, D3, aVF | CD, ou CX (distal) |
Inferior (B3) | D2, D3, aVF + V5 e V6 ou imagem em espelho em V1 e V2 | CD ou CX dominante |
DA: Descendente Anterior, DG: Diagonal, CX: Circunflexa, ME: Marginal esquerda, CD: Coronária direita.
Bom, com essa aula você consegue ter uma base sobre a topografia do infarto, e já é possível utilizar essas informações na prática do dia a dia…. Espero ter ajudado e ampliado um pouco mais seu conhecimento nesta área…. Até a próxima!
Autor: Dr. Gabriel Cesar Romanini de Paula