O uso do Apple Watch para identificar pulso de ritmo irregular trouxe benefícios para o diagnóstico também de fibrilação atrial.
Um estudo publicado no 68ª Sessão Científica Anual do American College of Cardiology (ACC.19) envolveu o acompanhamento de mais de 400.000 membros da população em geral e foi capaz de diagnosticar a presença de ritmo irregular em 0,5% de toda essa população. Os que apresentaram essa alteração foram posteriormente monitorados com eletrocardiograma, o que demonstrou um valor preditivo positivo de 84% na detecção de Fibrilação Atrial (FA). Em outras palavras, o dispositivo foi capaz de detectar a doença em 84% das vezes em que esse ritmo apareceu nos pacientes.
A principal vantagem de poder contar com esse diagnóstico de forma quase autônoma a partir de um dispositivo relativamente fácil de ser utilizado é o fato de que a fibrilação é uma doença silenciosa na grande maioria dos casos (somente 10% dos pacientes acabam apresentando sintomas) principalmente em pacientes mais idosos. Por esse motivo, os riscos de eventos tromboembólicos secundários, ou seja, a formação e migração de coágulos a partir do coração são bastante elevados e o pronto diagnóstico pode ajudar em muito na prevenção com o uso de anticoagulantes.
Infelizmente, a média de idade do estudo foi de apenas 40 anos. Mais de 200.000 participantes tinham idade abaixo dos 40 anos (entre 22 e 40) e a taxa de notificação de ritmo irregular foi de apenas 0,16% nesse grupo. Já no grupo acima de 65 anos, 3,2% dos pacientes apresentaram a notificação de ritmo irregular. Esses achados vão ao encontro do perfil epidemiológico da doença.
Outro aspecto bastante importante é que cerca de um terço da população que recebeu a notificação de pulso irregular apresentava o escore de CHADS-VASc maior ou igual a 2. Isso implica que seria possível utilizar o método para pensar na prevenção de eventos tromboembólicos a partir do uso de anticoagulantes.
Uma das principais críticas levantadas ao estudo é a de que os pacientes que mais seriam beneficiados são aqueles com maior propensão de desenvolver a arritmia, ou seja, os idosos. No entanto, essa não é a população que costuma utilizar o dispositivo. Outro ponto levantado é a de que esse dispositivo poderá aumentar os custos com os cuidados em saúde, em virtude do aumento da procura pelos serviços de médicos por pacientes que muito provavelmente não apresentam problemas de saúde relevantes.
Ainda assim e, de maneira geral, é possível dizer que o uso da tecnologia aliada à telemedicina poderá sim agregar novas ferramentas diagnósticas que trarão importantes avanços para a prática clínica, como a precocidade e segurança no diagnóstico de pacientes em ambientes cotidianos. A monitorização contínua que o dispositivo da Apple oferece é uma das muitas possibilidades do uso de wearables e da Internet of things (IoT) dentro da medicina.
Fonte: Apple Watch Helps Detect AF: Is This the Future? – Medscape – Mar 16, 2019.