Quem nunca se deparou com um ECG infantil, não é mesmo?
Seja durante a graduação ou mesmo naquele plantão de porta que a gente faz em um hospital que também tem PS infantil, sempre vem algum colega pediatra discutir um ECG, principalmente se você é clínico ou cardiologista. Ou, se você de fato é um pediatra, uma hora ou outra você vai ter que lidar com um ECG. As indicações de ECG em crianças são bem diferentes da do adulto, obviamente. Isso vale até um post exclusivo e oportuno. Mas hoje, eu quero comentar com vocês três dicas importantes na hora de avaliar um eletrocardiograma infantil.. Vamos lá?
Antes de mais nada, se você é novo por aqui, cadastre-se em nossa newsletter e não deixe de compartilhar com os amigos as publicações de nosso blog. Se você já se cadastrou, vamos logo então para as principais dicas do eletrocardiograma infantil. Vamos começar avaliando ECG de um menino de 8 anos.
Você considera esse ECG normal para a idade? Será que tem batimentos ectópicos, ou as chamadas extrassístoles? E pré-excitação ventricular, por causa desse PR curto? Será que o PR é mesmo curto? E por fim, será que temos sobrecarga de ventrículo esquerdo?
É bom ter muita calma nessa hora. Se não tivermos conhecimentos específicos para a análise de eletrocardiograma em crianças, a gente come bola. Existe uma ferramente muito importante que deve ser utilizada nessa análise e a gente já fez um post em nosso blog sobre ela: é a Tabela de Davignon. Se você quiser saber um pouco mais sobre esse tema, clique aqui e confira.
A primeira dica importante é: arritmia sinusal respiratória é muito comum em crianças! Ou seja, a presença de um ritmo sinusal com uma variação importante do intervalo RR, que pode chegar a mimetizar a antecipação de um batimento ectópico supraventricular, é bem comum em ECGs nessa faixa etária. Vamos ver em detalhe essa variação:
Figura 1: Variação importante do intervalo RR da arritmia sinusal respiratória.
Portanto, muito cuidado para não diagnosticar extrassístoles ou episódios de taquicardia supraventricular onde não tem. Para saber mais sobre arritmia sinusal, clique aqui.
A segunda dica é em relação à amplitude dos complexos QRS. A gente sabe que a avaliação dessa características do traçado permite o diagnóstico de sobrecargas ventriculares e mais comumente vemos sinais de sobrecarga ventricular esquerda. Os critérios de Gubner, Cornell, Sokolow Lyon entre outros consideram a amplitude das ondas em milímetros para sugerir essa possibilidade. Mas, os estudos desses autores foram feitos com pacientes adultos e não é possível extrapolar essa regra para o mundo infantil. Tanto é que as III Diretrizes da Sociedade Brasileira de Cardiologia Sobre Análise e Emissão de Laudos Eletrocardiográficos trazem um importante alerta sobre o Diagnóstico diferencial do aumento da amplitude do QRS: a sobrecarga ventricular é sim a situação em que mais comumente ocorre aumento da amplitude do QRS, mas ela também pode estar aumentada em indivíduos normais quando se tratar de crianças, adolescentes e adultos jovens, longilíneos, atletas, mulheres mastectomizadas e em casos de vagotonia.
Figura 2: Perceba os complexos QRS com duração maior que 20 mm no plano frontal e o sinal de Sokolow Lyon (Ondas S de V1 + Onda R de V5) maior que 35mm.Essa referência seria para adultos, mas não serve para o caso de eletrocardiogramas pediátricos.
A terceira e última dica é: cuidado ao analisar o intervalo PR. Muita gente esquece que o intervalo PR varia em crianças nas diversas idades. Mais uma vez, a gente precisa consultar a Tabela de Davignon e chegar a informação antes de sair dizendo que temos um PR curto. E o pior: muita gente acaba não vendo que existe um bloqueio atrioventricular de primeiro grau em ECGs pediátricos porque fica com aquele valor de 200ms como referência na cabeça. Cuidado: em pacientes de 16 anos, por exemplo, o PR máximo é de 180ms para ser considerado dentro dos limites da normalidade. E no caso do nosso eletrocardiograma em questão, o paciente tem 8 anos de idade e apresenta um intervalo PR com valor aproximado de 100 a 110ms, o que, de acordo com a Tabela, encontra-se dentro dos limites da normalidade (PR em DII entre 90 e 160ms).
Recapitulando então, vimos:
1) Arritmia sinusal respiratória intensa em crianças é bem comum;
2) Complexos QRS com amplitudes aumentadas, devido à baixa impedância torácica em crianças, não representam necessariamente sobrecarga ventricular esquerda.
3) O intervalo PR menor que 120 ms não necessariamente implica no diagnóstico de PR curto. Com essas três dicas, sua avaliação de ECGs pediátricos vai ganhar em acurácia diagnóstica e você vai evitar equívocos comuns que muitos colegas cometem por aí. Se você gostou deste conteúdo, deixe seu comentário aqui embaixo e compartilhe suas experiências com a interpretação de exames pediátricos. E não se esqueça de compartilhar com seus amigos nas redes sociais.
Hoje eu fico por aqui. Um abraço e até a próxima.
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